ECODESIGN COMO FUTURO DO DESIGN CONVENCIONAL

terça-feira, 14 de julho de 2009



Pensar em produtos, serviços e pontos-de-venda que minimizem o impacto ambiental ou reduzam o uso de recursos não-renováveis é uma preocupação cada vez mais constante nas empresas e entre consumidores. Em tempos de crise econômica e sustentabilidade em foco, o conceito de Ecodesign ganha mais espaço.
A principal proposta do conceito é produzir embalagens e produtos que utilizem princípios e materiais recicláveis. Especialistas ouvidos pelo Mundo do Marketing acreditam que o design convencional e a indústria são causadores dos problemas ambientais. Por isso, o Ecodesign se preocupa em garantir um futuro melhor para as próximas gerações.
Uma empresa que uniu com sucesso o design à sustentabilidade foi a Spirit. Desde o lançamento de sua linha de ventiladores de teto, em 2001, a empresa se preocupa em investir em produtos ecologicamente corretos. Os ventiladores – assinados pelo designer Guto Índio da Costa – foram inspirados nas hélices dos aviões.

Design ecologicamente correto
O resultado foi um design minimalista que logo tornou o produto popular entre designers, arquitetos e decoradores, o que ajudou a divulgar a marca. Mas as inovações não pararam por aí.
Os ventiladores Spirit são feitos de policarbonato e, além de totalmente recicláveis, foram os primeiros a permitir o uso de lâmpadas eletrônicas que economizam até 80% de energia. A leveza do produto ainda gera uma capacidade de ventilação 30% superior à média.
“Desde a concepção dos ventiladores (foto) sempre nos preocupamos com o fator ecológico. Além de reciclável, o policarbonato não permite o uso de agentes químicos na limpeza, o que advertimos nas embalagens”, explica a gerente de produtos da Spirit, Gilca Carneiro (foto), em entrevista ao Mundo do Marketing.
Princípios da natureza
A Tátil Design foi pioneira no Brasil – e até mesmo no exterior – no uso de materiais recicláveis. A agência nasceu com foco na natureza e sempre buscou inspiração em princípios básicos presentes nela – como as cascas das frutas ou a barriga da mãe – para projetar suas embalagens.

Quando criou a Tátil, há 20 anos, Fred Gelli já sabia da importância em valorizar os recursos naturais. Hoje, o sócio-diretor de criação da agência é o maior especialista da área e enxerga o reconhecimento do seu esforço para encontrar soluções sustentáveis ainda quando ninguém falava de ecologia a serviço da indústria.
“Até 1992 (ano em que aconteceu a Eco-92 no Rio de Janeiro), ninguém pensava em ecologia. Não existiam fornecedores que trabalhassem com estes materiais. Tivemos que desenvolver uma pequena fábrica para fazer produtos e embalagens alinhados a esses princípios”, comenta Gelli em entrevista ao Mundo do Marketing.
Produtos verdes
Seguindo os passos da Tátil, a Chelles & Hayashi também investe no Ecodesign. Há cinco anos a empresa realiza trabalhos sob este conceito, reduzindo a quantidade de material e de energia utilizados na fabricação de produtos e embalagens. Hoje, 90% dos clientes da agência se interessam em desenvolver produtos que tenham o Ecodesign como uma de suas características.
É o caso da lavadora Superpop, da Mueller Eletrodomésticos. O produto ganhou em 2009 o prêmio alemão “iF Product Design Award”, que elege os melhores produtos de 16 categorias diferentes. A lavadora permite que o sabão em pó entre em contato diretamente com as fibras do vestuário, limpando as peças sem a necessidade do uso de grande quantidade de água.
Outro exemplo de projeto desenvolvido pela Chelles & Hayashi é o apontador Splash, da Faber-Castell. Apesar de usar materiais diferentes, o produto tem peças facilmente separáveis para a reciclagem.

Natura – bem estar bem
Empresas preocupadas com o Ecodesign abordam todo o ciclo que envolve a produção, desde a matéria-prima, o transporte, a forma como o consumidor utilizará o produto, sua duração e até o seu descarte. A Natura é um exemplo disto.
Com projetos desenvolvidos pela Tátil e pela Chelles & Hayashi, a marca aparece como uma das principais empresas brasileiras alinhadas ao Ecodesign. A empresa trabalha com embalagens recicláveis e refis de produtos que chegam a consumir até 50% menos matéria-prima do que as embalagens convencionais.
De acordo com o designer e sócio da Chelles & Hayashi, Gustavo Chelles, a Natura resolveu não utilizar uma resina de cana-de-açúcar recém-lançada por não ter conseguido rastrear a origem do produto.


Branding e sustentabilidade
Mas a economia de matérias-primas e energia ou o uso de materiais recicláveis não são suficientes para o Ecodesign. É necessário juntar o design ao conhecimento para promover inovação.
Pensando nisso, há cinco anos a Tátil começou a investir na área de Branding. Hoje, a agência possui um núcleo de “ecoinovação” para aliar o alto impacto sensorial que os produtos e embalagens devem causar a soluções de baixo impacto ambiental.
Para a Natura, é importante que o cliente reconheça o trabalho realizado pela empresa. “Temos utilizado muitos refis e dividimos com o nosso cliente qual é o propósito da embalagem. Procuramos oferecer uma embalagem adequada, mas com um custo menor”, explica o diretor comercial da Natura, Arnô Araújo, em entrevista ao Mundo do Marketing.
O papel do consumidor
O papel do consumidor também é essencial para redesenhar o mercado diante deste novo cenário. “O Ecodesign não pode ser usado como justificativa para cobrar mais caro. Quando os produtos têm preços parecidos, o Ecodesign entra como valor agregado percebido pelo consumidor”, diz Chelles (foto).
O impacto gerado na economia com a crise também levou o consumidor a adotar outra postura. De acordo com Gelli, as pessoas estão cada vez mais interessadas em consumir produtos sustentáveis, mas ainda demonstram desconfiança sobre o posicionamento das marcas.
Por isso, é necessário que as marcas desempenhem um trabalho sério, sem tentar simplesmente se vender como “marca verde”. O desafio para as empresas agora é criar produtos de baixo impacto ambiental, mas que sejam interessantes, que levem experiências ao consumidor.
Branding 3.0
Cada marca deve ter um caminho próprio para buscar sustentabilidade. Baseado nisso, Fred Gelli (foto) apresenta o conceito de Branding 3.0. Para o executivo, o Ecodesign entrará em extinção em breve porque não será mais diferencial, mas sim obrigação. “No futuro, o bom design será eco. O design que desconsiderar estes aspectos básicos não terá espaço”, explica.
O Branding 3.0 significa uma mudança de postura das marcas para atenderem a nova lógica de relacionamento com o consumo. Segundo o conceito, cada marca deve contribuir com o que tem de melhor. A ideia é que a sociedade se baseie no modelo de negócio feito pela natureza, em que cada ser dá um pouco de si e recebe um pouco dos outros.
O Wal-Mart inaugurou no fim de abril, em São Paulo, uma loja sob o conceito do Branding 3.0. Para desenvolver o projeto de comunicação que fala de sustentabilidade, a Tátil mergulhou no universo da marca e de seus consumidores. Com o conceito “Bom para o seu bolso. Bom para o planeta”, a Tátil desenvolveu uma nova marca e uma estratégia de apontar para o consumidor quais são as iniciativas sustentáveis adotadas pela loja e como elas se revertem em benefícios.
Neste cenário, o papel dos consumidores é essencial para que o sistema funcione. “Mais do que possuir, o que importa é desfrutar”, explica Gelli. Para entender mais sobre o conceito, visite o blog “Branding 3.0”.
Por Sylvia de Sá, do Mundo do Marketing 10/07/2009

0 comentários:

Postar um comentário